quarta-feira, 31 de março de 2010

Milionário - M-I-L-I-O-N-Á-R-I-O!!!!!



“Meu maior sonho daqui pra frente é ser feliz”

Marcelo Dourado vence o BBB10 com 60% dos mais de 150 milhões de votos, nega que seja homofóbico e diz que pretende ajudar os irmãos e fazer projetos sociais com o dinheiro do prêmio



Aos 37 anos, o lutador gaúcho Marcelo Dourado ganhou, na noite de terça-feira (30), o prêmio de 1,5 milhão de reais do Big Brother Brasil 10. Ele ficou com 60% dos 154.878.460 votos recebidos pelo programa na última votação, um número que já entrou para a história da TV. “O BBB10 bateu o recorde mundial”, anunciou o apresentador, Pedro Bial. A dentista Fernanda conquistou o segundo lugar e o personal trainer Cadu, o terceiro. Na entrevista que deu após sair da casa, Dourado atribuiu a vitória à educação que recebeu da família, e dedicou a conquista a seus professores de lutas marciais. No chat, realizado logo depois, afirmou que o grande jogador é o público. “O mérito maior é de quem votou em mim.”

Ele disse que pretende investir o dinheiro do prêmio, comprar uma casa para ele e também para os irmãos, moradores de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Afirmou ainda que não vai parar de trabalhar e que quer fazer projetos sociais. “O meu maior sonho daqui pra frente é ser feliz. Sempre. Dar alguma ajuda para os meus irmãos. Pretendo viver, voltar a treinar. Agora terei condições. Não quero parar de trabalhar, pois adoro meus alunos. Fazer um projeto social é uma obrigação minha, pretendo devolver tudo o que veio de bom em forma de trabalho.”

Participante mais polêmico do BBB10, Dourado também disse que foi 100% autêntico no jogo, tanto para o lado bom quanto para o ruim. “Não me arrependo de nada. O que as pessoas viram foi o meu máximo”, declarou. O vencedor também negou que seja homofóbico. “Só soube desses boatos agora que saí da casa. Não sou homofóbico. Não tem nem o que comentar sobre o que os outros falam.”

Marcelo Pereira Dourado soube aproveitar muito bem a segunda chance que teve. Há seis anos, no BBB4, o lutador de jiu-jítsu amargou uma derrota popular, saindo no primeiro paredão de que participou, na oitava semana do programa, com 68% dos votos. De volta ao reality show da Globo, tornou-se o mais popular e também o mais polêmico concorrente, ao bater de frente, principalmente, com dois participantes homossexuais, a jornalista Angélica e o maquiador e drag queen Dicésar. Dono de opiniões e atitudes consideradas preconceituosas, Dourado afirmou que homens heterossexuais não contraem o vírus da Aids e chegou a levantar-se da mesa do almoço, dizendo ter perdido o apetite, quando uma conversa sobre paqueras gays estava rolando.

Mesmo tachado de homofóbico pela opinião pública, ele voltou de cinco paredões. A vitória, que lhe rendeu o prêmio de 1,5 milhão de reais, foi pressentida por sua mãe, Rose Porto Alegre. “Quando ele me contou que voltaria (para o programa), tive uma visão e disse: ‘Você vai vencer’”, disse a astróloga, roteirista e coreógrafa a QUEM. Nada mal para quem, há um ano, voltou de uma tentativa fracassada de fazer a vida como lutador na Nova Zelândia. Lá, trabalhou como segurança de boate e carregador de caixas numa exportadora de kiwi. “A única coisa boa foi voltar falando inglês, que ele aprendeu na marra, para se virar”, conta a jornalista Beatriz Colens, amiga do lutador.

Dourado nasceu em Santiago, no Chile, onde os pais se refugiaram da ditadura militar brasileira. De volta ao país, a família se estabeleceu em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Ele formou-se em educação física e só deixou a cidade em 2004, para participar do BBB4. Quando saiu do programa, decidiu continuar no Rio, mas a vida não foi fácil. Morando em um casarão malconservado que funcionava como república, no bairro do Recreio dos Bandeirantes, ele deu aulas em academias de boxe e jiu-jítsu até ir tentar a vida na Nova Zelândia, em 2008. Quando retornou ao Brasil, a república estava lotada, então, Dourado morou de favor na casa de amigos e, depois, numa quitinete de menos de 12 metros quadrados, sem janelas, na favela do Terreirão, também no Recreio. “O lugar era tão ruim que ele nunca me chamou para ir lá, tinha vergonha”, diz a amiga Beatriz.

SANDUÍCHE “PODRÃO”

Muitas vezes, o lutador não tinha dinheiro e comia na casa de conhecidos. “Almoçava duas vezes por semana comigo. Às vezes, ficava sem graça de estar incomodando”, diz o amigo e também lutador Bruno Gargaglione. A última refeição do dia, nessa época, tinha dois endereços. Quando Dourado tinha dinheiro, era um sanduíche de 3 reais em um trailer localizado na entrada da favela, ao qual podia acrescentar o que quisesse. Ele variava ingredientes como salsicha, hambúrguer e ovo de codorna, sempre acrescidos de salada. “Era o ‘podrão’, quase um PF (prato feito)”, diz o amigo Mauro Verry. Quando não tinha grana, o destino era a Pizzaria Sapore d’Italia, também no Terreirão. “Ele comia de graça e traçava todas as pizzas que sobravam das outras mesas”, entrega o pizzaiolo Daniel Torres.



COLCHÃO NO CHÃO

O lutador chegou a dar aulas em quatro academias da Zona Oeste do Rio e ganhava, em média, entre 25 e 30 reais por hora/aula. Quando a situação começou a melhorar, sempre no Terreirão, ele mudou para outra quitinete, em um prédio próximo ao lugar conhecido como Rua do Valão. Em novembro de 2009, mudou novamente para outra, onde morou até entrar no BBB10. Muito simples, o lugar conta apenas com um fogareiro, um frigobar, uma televisão e um colchão no chão. “Ele passou muito perrengue”, diz o professor Keké Vianna, que o substituiu durante sua permanência na TV. Foi através de Keké que Dourado começou a dar aulas gratuitas de jiu-jítsu para crianças do Terreirão, em uma academia improvisada na favela. “Ele decidiu dar uma força dando aulas duas vezes por semana”, afirma. “Ele é um ótimo professor”, diz Eduarda Fernanda de Almeida, de 10 anos, a única menina do grupo.

Sem muitas perspectivas, Dourado havia decidido, pouco antes de entrar no BBB10, tentar a sorte novamente no exterior. Iria trabalhar como assistente da amiga Beatriz, fazendo matérias de comportamento e esportes radicais na TV Toronto News, no Canadá. “Ele estava se sentindo fraco, doente, se alimentando mal. As passagens já estavam compradas, quando entrou no BBB”, afirma Beatriz. O convite para o programa foi visto como uma segunda chance para Dourado que, após o fracasso da primeira vez, havia tatuado a expressão “Sem fé” no braço esquerdo. “Ele ficou muito deprimido”, explica Aline Antonoff, amiga e empresária do campeão. “Falei para o meu filho abraçar essa oportunidade e fazer o que mais sabe fazer na vida: lutar muito”, disse Marco Antônio Dourado, pai de Dourado. Talvez por isso ele tenha a frase “Luto por prazer” tatuada no braço direito. “Ele é um guerreiro”, afirma a namorada, a comerciante Érika Barrosa, de 31 anos, que durante todo o confinamento do lutador evitou a exposição. “Somos muito reservados”, diz a carioca. Com seu “guerreiro” campeão e milionário, porém, vai ser difícil, a partir de agora, evitar os holofotes.

COMENDO PIZZA GRÁTIS

O pizzaiolo Daniel Torres conta que, quando estava sem dinheiro, Dourado comia as pizzas deixadas pelas outras mesas na Pizzaria Sapore d’Italia, na favela do Terreirão, no Rio de Janeiro



O JANTAR A 3 REAIS
Nos dias em que podia pagar por uma refeição, o lutador ia, à noite, a um trailer que vende sanduíches a 3 reais. Ele variava os ingredientes, como salsicha, hambúrguer e ovo de codorna.



PROFESSOR DA CRIANÇADA
Mesmo ganhando entre 25 e 30 reais por hora/aula nas academias em que trabalhava, Dourado também dava aulas de graça às crianças da favela em que morava

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